domingo, setembro 24, 2006

Rosa de Hiroshima...

"Despesa militar mundial superará os 834 mil M€ em 2006
A despesa militar em 2006 no mundo será 15 vezes maior que o destinado à ajuda internacional, alcançando os 834 mil milhões de euros, mais do que no período da «Guerra Fria», segundo um relatório da organização não governamental espanhola INTERMON OXFAM.

O documento, tornado público hoje pela Cadena SER, faz ainda referência ao aumento de vendas de armamento em todo o mundo, com os fabricantes a verem os seus lucros subirem mais de 70% entre os anos 2000 e 2004."

Dizem eles que há vários tipos de guerras. As mundiais, as de sangue, as religiosas, as crónicas..
Aquela inocente entre os sexos, as idiotas entre clubíticos futebolísticos.
Até temos as de audiências, santa paciência!
Nos dias que correm, nos telejornais, já não são guerras. Foram desvalorizadas em "conflitos armados"... Talvez para que o horror banalizado se torne um espectáculo mais grandioso e considerado que a realidade ela mesma. Será já um processo mais avançado, em que uma guerra, perdão, "conflito armado", se torna alimento de outra tão mesquinha ou mais ainda que a primeira. Tudo para se conseguir as tais audiências. Pois bem, audiências são o mesmo que vítimas, porque no fundo são ambas pessoas, seres. E isso tem tanto de irónico como de triste e desolador. Existem seres que têm a pouca sorte de levar com guerras em cima, temos outros que se sentam no conforto e segurança de seu belo e gasto sofá, para ver essas guerras passar, para ver esses outros seres passados por cima por essas máquinas de aço, gastando vidas emburrecidas absorvidas pela caixinha que segundo dizem mudou o mundo, mas segundo penso, tão pouco ela mudou, nem sequer no melhor sentido ela o fez, mas a caixinha, a caixinha não se liga sozinha... pelo menos por enquanto!
Quantas guerras se conseguiriam evitar, se menos gente estivesse ocupada a ser "audiência" acrítica e amorfa, votando no candidato daquele programa que é tão jeitoso, ou ligando para o jogo do milhão para se lançar às sortes e desta, de certo que é desta, conseguir aquela imensa fortuna que sempre mereceu... Quanto se faria com menos "audiência" e mais real existência.
De tudo isto, sobra o ponto que une cada guerra, que a todas elas alimenta e justifica. Aquilo que as torna comuns e cruéis, resultado da mais triste das condições que a humana criou. Em todas as guerras, por mais que se fuja, se tente esconder ou disfarçar, em todas elas, temos o Poder. Tão só. Aquilo que muitos acham que é tudo, que é o valor supremo. E a ele colado, como abutres nojentos e oportunistas, "tubarões de mil aparas", temos os políticos. Os políticos... Senhores que mandam e desmandam, que são representantes nem sei bem de quê, da teórica e suposta democracia. Aqueles que têm países à disposição, que têm homens que se dão ao infeliz e ridículo papel de defender, de morrer e matar em nome de qualquer coisa. Morrer e matar! Digo, morrer e matar. Mesmo. 1, 10, 100, mil outros seres, crianças, velhos, seres... Senhores para os quais soldados são audiência, e vítimas são "danos colaterais". Pouca sorte! Que enviam 10000 para aqui e para ali, que tentam salvar o mundo, dizem eles. Para os quais existe Poder, ganhar e perder. Nunca aceitarão perder. Como a canalha. Como os canalhas. Como quem fosse saído de uma qualquer caixinha, onde pessoas afinal não são pessoas, serão sempre fantasia...


"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada"

Vinicius de Moraes

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