"DECLARAÇÃO DE AMOR"
Conhecem-se há uns anos, os dois. À tardinha, logo depois do almoço (coisa pouca para não pesar demasiado no estômago já bem vivido...), saem ambos de suas casinhas e seguem até ao jardim já ali abaixo, aquele mesmo ao lado da Igreja. Caminham, não com dificuldade, mas com a noção exacta do tempo e do que representa, adquirida com anos de experiência nesta vida, nas suas vidas. Chegam à hora de sempre, ela mais cedo uns minutos, talvez por uma qualquer ânsia juvenil que ainda palpita, mas que não ficaria bem aqui revelar... Ele atravessa a passadeira, e acelera ao notar a presença dela no banco de pedra, no mesmo banco de sempre, bem virado para a rua de S. Paulo. Cumprimenta com um levar da mão ao boné, logo tirado num misto de prontidão militar e delicadeza de dançarino. Ela acena com a cabeça e no abrir exactamente medido do cantinho dos lábios. Senta-se a fazer companhia, depois da devida solicitação, que considera algo ridícula depois de tantos anos, mas que nunca iria atropelar, que nisto das "intimidades" elas são tremediças, e não vá levantar um vendaval de pudores assentados naquela alminha ali ao lado...
Trocam breves palavras. Trivialidades, que no começo é sempre difícil grandes conversetas. Depois, lá vão engrenando, e por aí vai, desde as mazelas das varizes ao desmazelo no barbear, falam agora de tudo um pouco, chorando dores e angústias, rindo memórias alegres e felicidades supremas, sorrindo também (não vamos negar) elogiosos mas respeitosos piropos disfarçados de comentários mais casuais a um aprumo na camisa engomada ou ao aroma suave a rosas.
É neste exacto instante que os "apanho" e do mesmo modo os deixo.
E o tempo? O tempo não passa... o tempo não existe, quando estamos apaixonados.
P.S. (Ao que parece, Jesus é o nome dele. O dela não adivinho, mas é uma pena que o cartaz esteja tão mal colocado...)
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