domingo, novembro 26, 2006

Mario Cesariny (1923-2006)

Porque era pintor. Porque era escritor. Porque não se chegava à realidade.


Tantos pintores...

A realidade, comovida, agradece

mas fica no mesmo sítio
(daqui ninguém me tira)
chamado paisagem
Tantos escritores
A realidade, comovida, agradece
e continua a fazer o seu frio
sobre bairros inteiros na cidade
e algures
Tantos mortos no rio
A realidade, comovida, agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
mas não agradece muito
Ela sabe que os pintores
os escritores
e quem morre
não gostam da realidade
querem-na para um bocado
não se lhe chegam muito pode sufocar
Só o velho moinho do acordeon da esquina
rodado a manivela de trabuqueta
sem mesura sem fim e sem vontade
dá voltas à solidão da realidade.
Titânia e a cidade queimada

3 comentários:

Profundezas disse...

Lindo!

jojo disse...

sim...là se foi mais um grande senhor...que resta deste mundo sem palavras livres...

Profundezas disse...

Afinal o que importa não é ser novo e galante, ele ha tanta maneira de compor uma estante,
Afinal o que importa é não ter medo de fechar os olhos frente ao precipicio e cair verticalmente no vicio, não é verdade rapaz.