terça-feira, fevereiro 20, 2007

Habitué

Ele há dias...

1927 Capítulo1
Entre outras moradias de bairro surgem os números 33 e 35 da Travessa da Portuguesa, em Lisboa.

19etrocaopasso Capítulo2
O número 13 da Rua da Bica de D.Duarte Belo faz suas as traseiras do número 33 e coloca de pé cozinha e casa-de-banho ilegais, muito provavelmente utilizando os esgotos do número 33 e 35.

19etrocaopassoemais umbocadinho Capítulo3
A velha gorda do número 13 farta-se de berrar e maldizer (com todos os palavrões possíveis e imaginários da língua portuguesa) jurando a pés juntos que a água dos esgotos dos numeros 33 e 35 lhe entram pela casa-de-banho (ilegal) adentro.

2004 Capítulo4
O número 33 é agora de um novo inquilino que desconhece totalmente que o terreno onde estão as ditas divisões ilegais é seu por direito...

2004 Capítulo5
A velha gorda do número 13 farta-se de berrar e maldizer jurando a pés juntos que a água dos esgotos dos numeros 33 e 35 lhe entram pela casa-de-banho (ilegal) adentro.
Mas não há quem lhe valha. A velhota é tão insuportável que não há alminha que lhe dê tempo de antena. Os seus cantares tornam-se um habitué do bairro.

2005 Capítulo6
A velha gorda do número 13 farta-se de berrar e maldizer jurando a pés juntos que a água dos esgotos dos numeros 33 e 35 lhe entram pela casa-de-banho (ilegal) adentro.
Habitué.

2006 Capítulo6
Habitué.

2007 Capítulo7
Dia 18, primeiras horas da manhã e até meados da tarde
A velha gorda do número 13 farta-se de berrar e maldizer.
Infelizmente, estas linhas são insuficientes para repetir 12 horas de vocábulos menos próprios. Mas sempre dá para uma amostra:
' Cabrão, filho da puta, tá-me a cair água na cabeça', 'Filhos da puta. Tenho aqui uma filha de muletas sujeita a escorregar, um marido doente, um sogro velhote (e doente). Eu própria tenho muitos problemas, dói-me isto, aquilo, aqueloutro...' 'Esta água tem espuma. Isto é dos esgostos...' 'Desliga a água, filho da puta'... 'Olha que eu chamo os sapadores'

17h Capítulo8
E não é que chamou mesmo!
Primeiro um carro dos sapadores.
Depois um segundo carro dos sapadores.
Depois um terceiro carro dos sapadores.
Depois a EPAL.
Depois a Polícia Municipal.
Depois a Protecção Civil.
Os primeiros olham, olham, olham. Pouco ouvem quem muito tem a dizer. Tentam descobrir de onde parte o problema e a nenhuma conclusão chegam. Há que chamar um segundo carro.
Os segundos igualmente olham, olham, mas ainda é preciso chamar um terceiro carro.
Os terceiros chegam simplesmente à conclusão que era um problema de drenagem de esgotos de todo o prédio 35 (Apenas do 35. Os próprios bombeiros sabem que o 33 não tem os esgotos a escoar para a casa da velha).
Solução? Toca a desligar a água de todo o prédio 35 e 33 inclusivé. Nem interessa quem lá vive, se está em casa, se têm sequer água para beber.
Qual o argumento? Quem não usa, também não pode deitar fora e o problema da velha fica resolvido. Mas eles não têm ferramentas para fechar. Há que chamar a EPAL (vulgo Águas de Lisboa).
A EPAL:
- 'Lamentamos, mas sendo um problema de esgotos não temos autorização para desligar a água. A não ser... que se chame a Polícia Municipal!'
A Polícia Municipal:
-'Não se passa nada. Tem que ser, fecha-se.'
A presença da Protecção Civil é uma obrigatoriedade nestes casos de bairros antigos e degradados. (Não vá o prédio cair em cima da velha) E estes levaram o seu papel tão a sério que já não queriam deixar ninguém dormir nos números 33 e 35, justificando que os mesmos se encontram em tão más condições, que estão em perigo de ruir...
Não vos digo que não fiquei alarmada... Porém, também vos garanto: qual é a credibilidade de uma protecção civil que não faz vistorias de rotina neste bairro, onde mais de metade dos edificios estão bem piores do que o nosso, e que um dia se lembra que ESTE prédio é que está em sérios riscos de ruína?!!

Dia 19 Capítulo9
Hoje é véspera de carnaval. amanhã é feriado. Quantos mais dias iremos ficar sem água, até que seja contratado um canalizador e o condomínio aceite o seu orçamento?
Solução intermédia:
Descobrimos entretanto que por lei não se pode desligar a água sendo um problema de esgotos. Pois toca novamente a falar com a EPAL. Aceitaram muito bem os nossos argumentos... mas só pelo valor de 24, 20Euros!
Não nos deixamos vencer. Se foram os sapadores os responsáveis pelo fecho gratuito da água, então também terão que ser os responsáveis pela abertura gratuita. Nada feito:
- Só com a autorização da Polícia Municipal.
Muito bem:
- Chefe! Não podiam fechar a água, muito menos a do número 33 que em nada contribui para a inundação da velha e gorda... Ou abrem vocês, ou abrimos nós, mesmo sem autorização.
- blá... blá... blá... Abram lá a água... com o compromisso de ninguém no número 35 a utilizar... mas dos 24,20Euros é que vocês não se safam!
Mais descansados agora. Sempre vai dar para tomar uma banhoca no número 33.

20h Capítulo10
Mais descansados, que é como quem diz... E não é que o filho e a nora da velha e gorda são bombeiros?! Ainda mal a EPAL tinha reaberto a água (sem ninguém no prédio para a utilizar) e já de volta estavam os bombeiros a tocar na campainha do número 33, acompanhados pelos cantares habitués:
'seus filhos da puta. já me está outra vez a cair água na cabeça' 'tá a minha filha de muletas que mal consegue andar' 'seus cabrões'

Sobe a estampa ao nosso vizinho, o do número 33 que em nada contribui para a inundação da velha e gorda, começa a ser mais varina que a velha, e sem meias medidas mexe os seus cordelinhos: toca a chamar o Comendador que é meu amigo.
E o que é que o Comendador faz? Toca a chamar o Comissário da Polícia, que é seu amigo.
Conta quem viu, que quando às 20h do dia 19 de fevereiro de 2007 chegam o comendador e o comissário todos se colocam em sentido: o subchefe da polícia, os sapadores, o filho, a nora e a velha que mais parecia uma barata tonta.

20.30h Capítulo11
Um bom comissário não se dirige ao local do crime sem estar prevenido. Levou consigo a planta original de 1927 dos números 33 e 35.
Espanto! A inundação na casa-de-banho que a velha tanto reclama, afinal nem sequer é um problema dela, pois nem sequer lhe pertence. Por direito o terreno é do número 33...
Bradam aos céus os bairristas! Provavelmente ficarão com a iniundação resolvida de vez.
Solução? A casa-de-banho e cozinhas ilegais passam para o lado de cá da barricada.

2 comentários:

Unknown disse...

epá! afinal sempre acontecem coisas emocionantes por aí!

e, zara, tens cá um dedinho de cronista... :b

sergei disse...

estou espantado por num caso que mete em acção diversas autoridades não ter sido mencionada a palavra 'inginheiro'!
noto agradado a presença de um comendador, personagem pública que pensei que já não existisse. regalo perante a presença da palavra 'varina'!