quinta-feira, maio 15, 2008

AS MULHERES DO MEU PAI, José Eduardo Agualusa


Um excelente romance (na realidade não sei se se pode classificar como simples romance...), um livro muito invulgar na sua estrutura. História ficcionada e realidade vão-se cruzando e misturando, alternando, confundindo-se lado a lado, o que até nem é novo. Mas este livro leva essa possibilidade ao extremo, sobretudo porque é uma realidade mesmo concreta, em que há o próprio escritor, há "personagens" mesmo reais, da nossa sociedade, desde Mandela a Mia Couto, e há referências nítidas às suas próprias vivências enquanto pessoa, desde músicas, a filmes e passagens da sua própria vida. Penso que será certamente o primeiro e único livro que irei ler e que trará uma menção e comentário a uma reportagem da revista Pública, junto com uma receita de Frango à Zambeziana...


José Eduardo Agualusa atinge uma maturidade de escrita muito consolidada, existindo uma evidente aproximação e colagem ao estilo de Mia Couto, não tanto na escrita em si, porque essa será inigualável, mas sobretudo no aspecto ficcional, nos universos mágicos e místicos que consegue criar, na irrealidade das personagens, na criação de um mundo onde pessoas vivem lado a lado com criaturas fantásticas e experiências esotéricas, um mundo de "sonambulância" constante. Depois, é um livro essencialmente sobre a vida de um homem, um músico angolano, Faustino Manso, mas será apenas esse um pretexto para o verdadeiro tema, as mulheres e o seu mundo, as suas relações com esse homem, as suas características únicas, numa perspectiva africana de um continente renascido mas com muitos vícios e problemas difíceis ainda por resolver. Um livro que dá imenso prazer ler, que se recomenda vivamente.


"Sentei-me ao seu lado, em silêncio e dessa vez foi ela quem falou primeiro. - Leve os sonhos a sério - sussurrou. - Nada é tão verdadeiro que não mereça ser inventado."


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