"O ÚLTIMO GRITO DO TIRANO"

Talvez porque nada neste mundo é por acaso, porque "isto anda tudo ligado" como cantava o outro, ou pelo menos algumas coisas andam (para que os mais cépticos não olhem torto) encontrei este pequeno entre os muitos belos, simples e comoventes textos que percorro actualmente, no livro de Tonino Guerra (tem piada, mas não vou comentar...) "Histórias para uma noite de calmaria". Não precisava de tantos devaneios filosóficos da treta sobre a condição (des)humana que vivemos, se o tivesse encontrado um dia antes. Mas talvez, também talvez, não lhe tivesse dado a devida atenção que merece, antes de levar com uma notícia daquelas... Portanto, ora digam lá se isto não é "claro, claro, claro como a gema de um ovo"?! ai isso é..

O Último Grito do Tirano

"Comandou grandes terras funestas que, por duas vezes, tinham suportado a peste bubónica e agora, no quarto mais grandioso do castelo, agonizava. O tirano fez chamar grande parte dos seus súbditos maltratados, as mulheres que havia violentado, os cegos, os coxos e os estropiados, deformados pela sua maldade.
No seu último grito de morte, com uma voz que embate sobre a multidão amontoada na sala, ao longo das escadas e, de joelhos, no pátio, deseja dizer a todos: morro contente por saber que não fiz bem a ninguém."